A esperança da vida é a Estrela da manhã

Quando o velho Abraão se viu cansado de cultivar sua crença remota, tolhido pela realidade que as circunstâncias e o inexorável passar dos anos insistiam em lhe mostrar, começou a desacreditar da promessa antiga, guardada no enferrujado baú do tempo e da história. O envelhecido caldeu de Ur já não gostava muito de pensar na desgastada ideia de ter um filho. A descendência nos moldes um dia sonhados parecia um desejo diluído nos anos, algo impossível de se concretizar. Na angústia daquele momento, contudo, foi que ouviu, mais uma vez, surpreendido, a voz do Outro, do velho amigo, o mesmo que outrora o havia chamado e fomentado em sua mente projetos largos, para muitas gerações. Escutou o convite sereno para uma caminhada pelas areias do deserto, numa noite limpa, sem nuvens e sem luar, mas repleta de estrelas no céu, a brilhar.

Todos nós passamos por momentos assim, onde a dúvida nos assola, quando nos pesa o coração e a cabeça acelera, feito patas de gazela. São tempos nos quais a antiga pergunta, o ancestral questionamento, insiste em nos afrontar, indagando: será que Ele é mesmo bom? Será que podemos continuar confiando em seu amor? Por que demora tanto para nos ouvir, por que parece postergar sua resposta, como se não soubesse dos limites impostos a meros seres humanos? São tempos de exaustão, de medo implacável e insegurança sem fim. Justamente nesses tempos, porém, é que o Senhor nos chama de novo, insiste um pouquinho mais, convida: “Vamos dar um passeio! Ande ao meu lado e olhe para o céu, olhe para cima, olhe para o que é eterno… veja as marcas do meu amor que brilham no firmamento da sua história! Lembre-se das minhas palavras, não tenha medo…”

Esperança é a teimosia positiva, que insiste em acreditar! Certeza insistente, que se recusa a desistir daquilo que demora e, até parece, não virá.

Milênios depois da partida do primeiro patriarca, outros homens da Caldeia, sábios estudiosos, magos dos astros e dos planetas, olhando para os céus, avistaram ao longe, pulsante, reluzente, inebriante, outra estrela a brilhar. Como fizera com seu amigo Abraão, fazia Deus outra vez, agora na plenitude dos tempos, e para todos homens, imprimindo no céu o sinal da esperança mais singela! Outra estrela cintilou com intenso brilho, apontando a boa nova: numa manjedoura, nasceu o Salvador! Esta esperança, todavia, é bem maior que a de Abraão, é eterna. O pequeno infante, o homem Deus, viveu, morreu, mas ressuscitou. Da encarnação divina nasce a esperança plena, imutável, interminável; e a Estrela brilha do alto do madeiro e nos dá a vida que não tem fim!

Alegrai-vos, pois, todos os povos da terra! Cingi-vos com a teimosia bendita, que acredita na vida, no belo e no bem. Pois a esperança verdadeira é aquela que se fundamenta no caráter daquele que é Bom, daquele que nada poupou para garantir um futuro pleno, de infindável amor, aos homens e mulheres de boa vontade. Pois o nome da esperança é Jesus, a Estrela da manhã, a aurora da vida!

 

Por Cayo César Santos – Presbítero da Igreja Presbiteriana do Planalto, membro do Centro Cristão de Estudos e colaborador na área de mentoria do Projeto Vocatio, em Brasília/DF. Autor dos livros “Século I: O Resgate” e “Século I: A Reconstrução” Ed. Ultimato.

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