Túmulo vazio, Trono ocupado!

Talvez, ao fim do duríssimo processo eleitoral que acabamos de vivenciar, no dia seguinte ao fechamento das urnas e à contagem, eletrônica, dos votos, passemos a ter uma maior consciência dos estragos feitos e dos espólios de guerra deixados à margem do caminho da existência, enquanto muitos dos seguidores do Cordeiro, envolviam-se em debates muito mais do que acalorados, feito lobos raivosos ou torcedores de uma apaixonada facção futebolística. Sim, infelizmente, no momento em que tivemos a oportunidade de sermos diferentes, sal e luz, esperança para a nação, nos tornamos tão iguais à média da sociedade, fomos tão insossos e sombrios quanto qualquer outra pessoa. Mas, como tudo nesta vida, isso também vai passar!

Por certo, outra vez, aos seguidores do Cordeiro, fechadas as urnas e decididos os nomes, será oportunizada a possibilidade de exercerem sua vocação primordial, seu chamado básico e elementar, o ministério da reconciliação. A oportunidade de restauração é a sinfonia da esperança. Seus harmônicos movimentos podem inundar os corações de paz quando as rupturas e o medo fazem parecer que, ao final, não será possível a vitória do bem sobre o mal. O povo do caminho, aqueles que seguem o Deus encarnado, morto e ressurreto, terá que voltar seus olhos e seus corações para as mágoas e desalentos que o processo gerou. Lembro, aqui, de antiga canção que dizia: “a começar em mim…” Este é o chamado, esta, a missão: ter e fazer ter, corações quebrantados na presença do Senhor. Que o Eterno nos dê a graça de não desperdiçarmos mais uma chance.

Posto isto como condição preliminar, parece-me importante, também, ressaltar que precisamos, enquanto cidadãos e servos do Altíssimo, estabelecer melhor os critérios e as razões da nossa esperança, pois muitos, nestes tempos de embate político, têm ancorado seus sonhos e suas expectativas em homens, cheios de retórica, mas vazios de condições reais de poder. Eis que o poder verdadeiro, o domínio e a força, pertencem, somente, ao nosso Deus! Portanto, não coloque suas esperanças naquilo que não é, ao contrário, deposite-a aos pés d’Aquele que É, do eterno Eu Sou.

O nosso país, já há muito tempo, experimenta um cenário de escuridão, um cheiro de morte, que brota de nossos hospitais abarrotados de doentes sem o devido cuidado e das nossas ruas repletas de violência; todos sentimos o fétido odor que permeia a esfera dos poderes públicos, assaltados pelas hordas da corrupção.

Não nos esqueçamos, todavia, que também foi assim em outros tantos capítulos da história da humanidade, dentre os quais, destaca-se, como o mais importante, aquele que aconteceu em uma sexta-feira distante, mais de dois mil anos atrás. O mesmo desalento tomava conta dos discípulos que, mergulhados na consternação que reinava naquele longínquo final de semana após a morte horrenda de Jesus na cruz, se dirigiam a Emaús. Como aqueles viajantes, não raras vezes, andamos cabisbaixos, curvados pelo sentimento de que tudo está perdido e de que a corrupção, dor e sofrimento não deixam lugar para que o bem aconteça na história. Também no íntimo de nossos corações passamos por vales sombrios que, a seu tempo e modo, podem nos cegar. Hoje, porém, como naquele momento histórico, enganamo-nos quando pensamos que o choro e a morte, que a ruptura e a separação, são as últimas notícias.

A visão da realidade dos fatos se apresenta ao longo do caminho de Emaús, como sabemos, por meio daquele que encarna a própria luz, que é a fonte da própria vida e que insiste em dizer: não é tempo de desistir, não é o fim! Conforme ele demonstrou naquela empoeirada estrada, nossa saída está em olhar para as Escrituras e, nelas, enxergar a ação poderosa do Deus que nos garante que tudo o que houve, tudo o que há e tudo o que há de vir dirige-se a um surpreendente final que já está determinado, a uma vitória que já foi conquistada, curiosamente na escuridão e na dor da cruz, e que redunda na esperança da vida, na ressurreição.

A trilha de Emaús é, então, um chamado à esperança. O Cristo que venceu a morte para nos garantir a vida nos assegura que não estamos sozinhos em nossa batalha pela construção de uma realidade mais cheia de luz e graça, pois o bom, o belo e o verdadeiro fazem parte do reino de Deus e Ele é suficientemente capaz de implementá-lo. Todas estas verdades aplicam-se ao Brasil e à nossa gente sofrida, ainda que os homens maus tentem impedir sua efetivação. Na ressurreição de Jesus, o projeto de restauração da humanidade se concretiza. No texto do evangelho, temos a narrativa do dia em que Maria Madalena anuncia a Pedro e João que vira, vivo, o Senhor. Os homens correm até a sepultura para comprovar o acontecido. Diz-se que Pedro para à porta do túmulo mas, João, como um raio, passa por ele e entra na sepultura. Após contemplar a cena, lugar vazio, lençóis jogados ao chão, pensando e meditando sobre tudo o que sabia a respeito de Jesus, o discípulo amado conclui: “agora entendo, Ele está vivo”!

No livro da revelação, João, velho e exilado na Ilha de Patmos, símbolo da enorme perseguição que um louco imperador impunha aos cristãos, vê o mesmo Jesus, com cabelos brancos e reluzentes de sabedoria eterna, com olhos como fogo para tudo ver e o cetro de soberania em suas mãos, assentado em um alto e sublime trono. Ele, e somente Ele, é digno de desatar os selos e abrir o livro da história. Um túmulo vazio e um trono ocupado, está é a realidade final, este é o desfecho da saga humana sobre a terra! Assim, não há nada perdido, não há a nada a temer. O Senhor da História venceu. O bem já triunfou.

Cinja-se, portanto, das armas do amor, do serviço e da reconciliação, elementos distintivos do grande propósito da sua existência. E não tema a quem quer que seja, que venha a ocupar a caneta e a direção do país ou do mundo inteiro. Pois o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória, o louvor e todo o domínio, pertencem, pelos séculos dos séculos, somente a Jesus.

 

Por Cayo César Santos – Presbítero da Igreja Presbiteriana do Planalto, membro do Centro Cristão de Estudos e colaborador na área de mentoria do Projeto Vocatio, em Brasília/DF. Autor dos livros “Século I: O Resgate” e “Século I: A Reconstrução” Ed. Ultimato.

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